Clarence Birdseye era um rapaz esperto do Brooklyn, em Nova Iorque, que gostava de duas coisas aparentemente inconciliáveis: viver ao ar livre e ganhar dinheiro.Conseguiu o que queria ao trocar a faculdade, que não terminou, por uma vaga de biólogo de campo, emprego de nível médio oferecido pelo Governo americano num posto de observação avançado, nas proximidades do Ártico. Sem ter muito o que fazer além de observar, espantou-se com algo corriqueiro naquela região gelada: a técnica esquimó de conservar alimentos.
Reparou que o peixe que traziam, e não consumiam na hora, congelava e endurecia rapidamente, bastando ficar exposto à baixíssima temperatura local e à ação dos ventos. Mais intrigante ainda é que, mesmo após semanas ou meses, ao ser descongelado e servido, o peixe não perdia nem o sabor nem os valores nutritivos.
Birdseye havia passado pouco tempo na escola de biologia, mas tempo o suficiente para entender que a estrutura celular do pescado fora preservada.
Farejando excelentes negócios, ele pegou o navio de volta para sua Nova York natal e desembarcou no mercado Fulton, em Manhattan, em setembro de 1922, para vender seu peixe cru. Dois anos depois desenvolveu o processo que lançou as bases da nova indústria: ainda usando barras de gelo, passou a acondicionar o peixe e outros alimentos pré-cozidos – legumes e hortaliças, basicamente – em caixas de papelão, sob pressão.
Para realizar a segunda parte do sonho – faturar bastante – Birdseye arranjou meia dúzia de sócios capitalistas e montou a General Seafood Corporation. A novidade que mudaria a rotina das donas-de-casa e dos homens solteiros ou descasados no decorrer do século XX se espalhou nos anos 30 com a inclusão de 26 gêneros diferentes, inclusive frutas e outros tipos de carne, como a bovina.
O toque de Midas foi dado dez anos depois de sua entrada no mercado de congelados, quando, em 1934, Birdseye encomendou à indústria de refrigeração American Radiator a fabricação, a baixo custo, de grandes quantidades de um freezer rudimentar.
Com grande estoque de aparelhos, a General Seafood Corporation alugava o equipamento aos varejistas por US$ 8,00 mensais mediante contrato que impedia a conservação, naquele freezer, de qualquer outro produto que não tivesse sua marca.
Na década de 40, os produtos Birdseye começaram a viajar em vagões frigoríficos – sendo distribuídos em vários estados americanos – e no serviço de bordo das companhias de aviação. Século XX adiante, hambúrgueres e alimentos de baixo teor calórico foram acrescentados ao cardápio.
FONTE
A PADROEIRA das donas de casa. O Globo. Rio de Janeiro, n. 10, 1999. Globo 2000, p. 222.